terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Para ele

Sabes quando queres sorrir mas tens uma raiva tão grande dentro de ti que não te deixa fazê-lo?
Quando tudo o que te rodeia te incomoda. Quando queres simplesmente fechar os olhos e abri-los quando tudo tiver passado? Abri-los quando o teu plano de fundo já não esboçar um cinzento desconfortável mas sim um azul tão bonito que nunca te cansas de olhar para ele.
Quando tudo estiver assim, quando tudo estiver a cair, quando o teu mundo estiver a morrer, eu prometo-te uma coisa. Prometo-te um pedaço do meu mundo. Quando quiseres fugir do teu, podes vir-te esconder-te no meu. Quando por dois segundos quiseres baixar o volume dos ruídos do teu ser e vir visitar o meu, a porta nunca se fechará para ti. Por isso mesmo espero ser capaz de construir um bom esconderijo no meu mundo para ti, e conseguir arranjar um sitio perfeito para quando quiseres sorrir e não conseguires. Por isto tudo quero que sintas à vontade para me bateres a porta e entrares. Quero que não tenhas medo de me chamar porque eu não vou estar muito longe. Confia, que escrevo só para ti

domingo, 2 de dezembro de 2007

Encontros vitalícios

Hoje vi-te. Aliás, hoje revi-te.
Estavas totalmente como eu queria. Sem qualquer traço de grande expressão. Apenas um sorriso discreto mas sincero nasce quando me vês. Desta vez não eras tu que me esperavas, como acontecia quando desejava o teu desejo de me ter. Hoje fui eu que te fui procurar, e fui ao sítio certo.
Sentei-me no banco de pedra. Estava gelado. Nos primeiros minutos a pele das minhas pernas parece estar a arder. Depois veio a dormência. Sinais da chegada do Inverno. Fiquei ali, estática. Olhei em volta e perguntei-me sobre o que estaria a pensar o homem que vinha na minha direcção. Estaria ele, como eu, à procura de quem um dia lhe dera uma paz única? Conforme ele se vai aproximando, vou tentando arrancar pistas do seu olhar mas tudo o que encontro são meras imagens de uma vida imensa. Ao chegar perto de mim depara-se com a minha solidão. O seu pensamento não faço ideia de qual possa ter sido mas logo me deu um sorriso meigo que na minha língua traduzi para: “Não te preocupes, também já estive aí. É verdade, o doce torna-se amargo, e é aí quando dói mais.” Em dois segundos tudo isto foi-me dado por alguém desconhecido que a minha mente decidiu manipular. Vejo-o ir embora, aumentando a cada passo o seu saber de vida.
Tiro a mochila das costas e ponho-a ao meu lado no banco, deixando ainda espaço para ti. Ajeito o lenço que com muito empenho me aquece o pescoço e guardo as mãos nos bolsos. Fecho os olhos. Ouço os pássaros, as pessoas, a água do lago em frente, o barulho do teleférico por cima, o vento. Respiro fundo. Sinto-te a chegar.
Chegaste e sentaste-te a meu lado. Não pensei em mais nada. Toda a minha capacidade mental naquele momento se esforçava para não desapareceres. Não falámos. Nunca o fazemos. Durante uns minutos, de olhos fechados, senti-te ali, a meu lado. Onde em tempos querias estar. Quando abri os olhos deixei de sentir a tua mão agarrar a minha.
Levantei-me. Peguei na mochila e comecei o percurso para casa. Percorri o caminho já decorado com uma felicidade interior tão grande que tive que me esforçar para não sorrir sozinha senão seria considerada algo como “maluca” pelas senhoras curiosas que todos os dias encontro empoleiradas à janela.
Não me pergunto porque ainda o faço. Não quero saber se algum dia estarás realmente de novo ali comigo. Sei que os poucos momentos que a minha imaginação me proporciona contigo são algo que me faz bem. Não tenho medo de ser criticada ou julgada por fazê-lo. Simplesmente, quando sinto falta, vou ter contigo onde me apetecer. E assim mantenho vivo em mim o que mais me orgulha. Sem pensamentos a mais, porque pensar demais faz mal, continuo a ter-te comigo sempre que quero e isso faz me sorrir porque e algo que ninguém me tirará nunca.
Assim, espero encontrar-te da próxima vez.