terça-feira, 20 de novembro de 2007

O meu reflexo? Insegurança, com as suas 11 letras perfeitas!

Hoje desligo tudo. Tiro o telefone do descanso, arranco a ficha da televisão da parede, deixo o computador ficar sem bateria e paro. Desligo-me a mim própria. Desligo-me do mundo.
Respiro fundo, dou-me tempo. Apago a luz, devido à atracção que aqueles mosquitos mostram ter por ela e à privacidade que peço aos vizinhos da frente. Sem receio abro a janela. Olho para o mundo do qual me sinto longe. A noite é o meu momento preferido. Quando parece que todos pedem a lua mas ninguém deixa a cabeça totalmente do lado de fora da janela para que a lua seja só sua. Sem medo dos olhares interessados, partilho a minha vista da lua com quem se quiser sentar a meu lado.
Em cima da secretária olho para o céu que sei longe mas quero junto. Sinto o frio. Sinto o vento. Sinto o meu corpo. Sinto o Inverno. Abraço uma noite de Janeiro.
Adoro olhar para as casas e aperceber-me que é aquele o momento em que todos mostram quem são. Ouço os suspiros de quem, depois de um dia imenso, se deita e dá a mão a quem ama. Naquele momento o conforto reina. Ninguém o retarda.
Esqueço os desconhecidos que imagino e fico de novo sozinha. Apercebo-me da grandeza do mundo. Da quantidade de seres iguais a mim e quero acreditar que alguém, seja onde for, também olha para a minha lua, de outra secretaria, e sente comigo o que vivo.
Não consigo expulsar esta insegurança que sinto quando caminho. Só a noite me enche. Só naquele momento sou capaz de dar a cara. Peço, hora após hora, que a lua ganhe o lugar que o sol ocupará dali a tempos. Quero poder sentir-me eu sempre. Quero a noite a cada instante. Mas não posso tê-la!
Levanto-me da secretária. Respiro o ar frio que parece limpar-me os pulmões, olho mais uma vez a lua e despeço-me. Despeço-me dela, do frio, dos vizinhos que se entregam ao relaxamento, do vento, do silêncio que ouço, da noite, de mim. Preparo-me para sentir o sol. Preparo-me para viver.

Já não é recente mas ainda é presente...

Seis da tarde. Dia de sábado, dia de Inverno. Um dos primeiros dias em que faz frio a sério. Sinto uma certa falta do verão e de poder estar lá fora sem precisar de uma camisola ou de alguém para me aquecer. Uma tarde de sábado perdida em casa, há quanto tempo não acontecia... Liguei-lhe. Tinha um vazio que só as nossas tardes juntos preencheriam. Como habitual falamos sobre tudo. Começámos no zero, passando pelo clímax das nossas vidas, seguindo-se comentários ridículos sobre o nosso rotineiro dia-a-dia. Eram poucas as vezes em que, depois de nos calarmos, sentíamos que nada podíamos tirar dali. Nunca nos sentíamos arrependidos de falar. Cada vez que um de nos acabava uma conversa tínhamos nas nossas mãos mais um pouco do outro. Nada era tabu entre nos. Éramos confidentes e críticos. Tudo passava por nós e nunca deixávamos escapar um assunto sem que esse fosse falado a fundo. Uma conversa que começasse, em pleno almoço, sobre como a alface da nossa sandes estava velha e seca chegaria, provavelmente, a uma confissão sobre como nos sentíamos sós e chorávamos, precisando um do outro. Era algo que sabíamos que sempre iria ficar, nós os dois. Sabíamos, e sabemos, que o que fomos nunca se ira tornar nada. Hoje já não nos temos. Sabemos que durante bastante tempo não seremos, nem iremos encontrar, o que fomos no nosso curto passado. Não encontramos, nem queremos, o porquê para o nosso fim. Nunca nos perguntámos porque éramos o que fomos e não queremos saber o que somos agora. Sabemos que não morremos um para o outro. Nunca nos iremos perder porque ambos nos guardamos, mas só por dentro. Hoje temos medo dos olhares com os quais sempre falamos. Hoje temos medo de voltar atrás porque não nos queremos voltar a despistar e perder como aconteceu. Sinto falta de tudo o que fomos. Dou por mim, sozinha, a andar, na expectativa de ouvi-lo chamar por mim ao longe e de ver, mais uma vez, o seu sorriso. De ouvir o seu andar calmo e de me encostar a seu lado. Quero voltar a sentir que tenho quem me guarde e cuide como tive. Agora espero e anseio o dia em que acordemos e ambos pensemos na falta que nos fazemos e na saudade que nasceu. Quero fechar os olhos e abri-los só quando souber que vais estar aqui.

Explicações totalmente desnecessárias(um aparte)

Portanto, foram precisos uns dias seguidos para decidir criar este mero blog. Enquanto eu dizia "Para quê criar um blog?" eles retribuiam com "Porque não criar um blog?". E foi então que, às 22:16 do dia 20 de Novembro, lhes fiz a vontade(e quem sabe um favor a mim própria).
A minha maior dúvida era como explicar o que seria disto... E continuo com essa dificuldade. Não sei o que dizer sobre o que irão ler a não ser que só chegará aqui o que for digno de tal. Como alguém disse e a Rita fez o favor de me transmitir:"É bom termos uma coisa nossa, o nosso pequeno projecto pra cuidarmos". Assim vou tentar cuidar deste meu primeiro e único pequeno projecto regularmente e com muito brio. Não sei nem quero dizer com que regularidade irão aparecer aqui coisas novas porque nao quero desiludir ninguém, muito menos desconhecidos que possam por aqui passar e ficar com a ideia errada. E como os livros que tenho nas estante estão cheios de agradecimentos, a imitação será o meu crime de hoje. Os meus obrigadas são simplesmente três: à Rita Vian pelo incentivo, ao João Pacheco pela persistência, e um importante àqueles que são a inspiração e donos do que escrevo pois tudo o que aqui será escrito terá sempre um dono ou dona. Bem, vamos lá começar isto então...Desejem-me boa sorte.