quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Oito da manhã, domingo.
Mais uma vez acordo e não sou capaz de deitar a cabeça na almofada e voltar a adormecer. Levanto-me, então, já sem quaisquer esperanças de sonhar mais um pouco. Olho para a sempre igual paisagem que pela janela se mostra. Está um daqueles dias. Lembro-me de nós. Fecho os olhos e consigo ir até ti e voltar ao meu quarto. O dia faz-me lembrar de ti. Lembro-me de todos os momentos que juntas conquistámos. Tenho um imenso desejo de fugir deste meu habitat e deitar-me no teu mundo. Mundo que deixaste tornar-se noss.
Rapidamente, sem hesitar, pego no telefone que depressa produz o som indicando estar a tocar. Um imenso sorriso nasce quando ouço o teu olá. A tua voz, ainda ensonada, diz-me simplesmente que do outro lado anseias a hora em que o comboio ira chegar. Um adeus próximo e um ate já presente fazem o tempo parar para voltar a dar corda aos relógios só quando nos encontrarmos.
A cansativa viagem torna-se indiferente. Nunca foi impedimento, naqueles fins-de-semana, a distância que necessitava ser percorrida.
Quando, finalmente, chega a hora de me levantar e pisar o nosso terreno ainda faltas tu. Mesmo assim há algo que surge e me alegra. Pelo caminho vou recordando o álbum que na minha mente se criou e vai actualizando. Tudo ali me faz lembrar de um momento nosso. Sentada, agora no autocarro, já sou capaz de prever o teu sorriso quando chegar. Já consgio sentir o teu abraço apesar de saber que ainda estás deitada na cama.
Pego na mochila, mais uma vez cheia de roupa desnecessária, e com o seu peso caminho. Passo por aquela estrada que todos os dias percorremos no verão. Cada passo que dou é mais próximo do futuro em que te vou ver e mais perto do passado em que te vi. As recordações são muitas e são a minha arma contra o cansaço que vai chegando. Finalmente, depois de tanta estrada e árvores, chega a curva que depois do seu fim mostrará o teu canto. O teu canto que sempre partilhaste comigo.
Com a confiança que tenho nas mãos retiro o cadeado do portão que põe fim ao meu anseio. Cumprimento o cão que já por mim também é cuidado e continuo aquela rampa que me habituaste a percorrer com um enorme sorriso. Finalmente chego a ti.
Paro antes de abrir a porta de vidro que ainda nos separa. Paro e continuo a relembrar o que desde aquele telefonema mantenho. Dou um passo e, muito cuidadosamente, entro no nosso círculo de felicidade e cumplicidade. Penso se devo subir aquelas escadas perigosas e surpreender-te ao abrir a porta da nossa vida ou se devo chamar por ti. Mantenho-me no mesmo centímetro, ainda inconsciente de que estou ali, e chamo o teu nome. Depressa ouço os teus passos por cima da minha cabeça e logo apareces nas escadas. Ambas ficamos naquele momento estáticas a pensar se realmente estamos ali ou tudo é ilusão. Instantaneamente entramos na sintonia, já habitual, e num imenso abraço damos, novamente, liberdade ao que mais nos une.
Depressa subimos sem nos importarmos pelo que deixamos para trás. Numa correria apressada sigo-te até ao quarto. Sem saber porque só nos acalmamos e descansamos passado um bocado. Tudo é imensamente apressado para não perdermos um único segundo. Para nós, depois de entrarmos naquele quarto, o tempo lá fora parece que pára. Imediatamente, ligamos o rádio e regulamos o volume, conforme o nosso estado, para ouvirmos aquela nossa banda sonora que é música de fundo da nossa amizade.
Olho para o quarto. Examino cada canto e nunca me escapa nenhum pormenor. As perguntas habituais surgem e a conversa é iniciada. Tudo é comentado. Eu ouço e falo. Tu ouves e falas. Assim passamos o dia. No quarto, cada uma em sua cama, na cozinha, eu a preparar e tu a comer, ou lá fora. Nunca ficamos sem assunto e os risos tornam-se constantes e propositados. Chega o momento das lágrimas que de imediato me faz mudar de cama e dar-te a mãe. Crio um chão seguro no qual possas voltar a sorrir e com esforço de ambas trazemos a boa disposição de volta.
Chega o jantar. Com muito agrado e fome limpamos os pratos que sabemos ter que lavar. Com vontade de sair dali depressa levantamo-nos e despachamos a louça que todos os dias é castigo e martírio. Libertas da obrigação subimos e arrumamos tudo para quando voltarmos ao nosso canto.
Saímos e cada uma segue o seu rumo. Não há preocupação em estarmos juntas. Sabemos que quando voltarmos seremos nós de novo e tudo será contado como pormenorizadamente como se tivéssemos passado a noite sem nunca nos termos largado.
Quando voltamos sentimo-nos estafadas e gastas. Só queremos é dormir e chegar ao amanhã com a energia reposta. Mal entramos no quarto caímos nas camas mas tornou-se impossível adormecermos e entrarmos na nossa paz de espírito imensa sem antes descrevermos cada pormenor das nossas últimas horas. Acabamos a conversa e pensamos em como gostamos de estar ali e daquilo e como nada é problema quando estamos no nosso momento. Não queremos acordar no amanhã e saber que tudo já terá fugido.
Na manhã seguinte tudo continua igual menos o facto de sabermos que tudo acabará dali a pouco. O nosso humor continua óptimo e a ligação entre nós não se quer romper. A conversa recomeça e mais coisas vamos arrancando uma da outra. Por momentos ficamos caladas e ganhamos noção do que temos nas nossas mãos. Uma relação como até hoje nunca tínhamos conseguido fosse com quem fosse. Temos algo que parece ter nascido connosco e que irá ficar preso à nossa memória sempre. Inexplicável mas indispensável.
Os momentos que se seguem são vividos com o adiar do adeus. Não queremos pensar no que será depois. Tentamos aproveitar da melhor maneira o que ainda pudemos ter. Mais umas gargalhadas, umas verdades, umas confissões e uns olhares. Percebemos que assim que a porta do quarto se fechar a saudade vai voltar. Desejamos nunca mais sair dali.
A volta a casa é feita com um sentimento de enorme satisfação. Cada momento que passamos foi um momento ganho com grande agrado. Arrependimento é algo que nunca chegará perto do que somos juntas.
E depois de tudo mais um dia virá em que eu irei acordar e ter vontade de ir a correr ter contigo e ficar naquele quarto que nos leva para longe. Em que eu sentirei falta do teu abraço quando choro e de sentir a tua mão agarrada à minha. Em que eu sentirei que, apesar de não ter o que muitos dizem importante, por te ter a ti tenho uma segurança imensa. Em que eu irei perceber que sem ti não sou nada!

Desejos...

Gostava de me sentir capaz de puder saber que não vais para longe.
Conseguir encontrar um canto para mim no teu universo.
Entrar e nunca mais sair.
Ver-te e não voltar a fechar os olhos só para não te perder de vista.
Gostava de perder o vazio que tenho nas mãos e preenchê-lo com a sinceridade do teu olhar.
Saber os teus movimentos e desvendar os segredos que me confias sem falar.
Gostava de gritar ao mundo que somos um do outro pois o amanhã pode não ter força para nós.
Se assim for, construirei um novo apoio e dar-te-ei a mão para que nunca te percas, para nunca te perder, para nunca me esqueceres.
Porque me tens em ti, porque te tenho em mim…

Mais um dia igual ao último

Todos os dias acordamos na esperança de encontrarmos algo inovador e motivante. De fazer nascer um dia que possamos dizer diferente.
O dia é enfrentado, inicialmente, com uma enorme vontade de viver e um sorriso imenso. Tudo parece dar-nos uma infindável energia e só mais tarde o plano de fundo perfeito mostra como tudo é igual a ontem. Os passos são os mesmos e o cenário sempre indiferente. O mesmo acto de acordar e fazer a cama da maneira mais perfeita possível. Como quem abre os olhos quando ganha consciência e se esforça para que chegue um dia mais harmonioso e excitante que os últimos.
Na rua tudo se mantém igual. As pessoas, provavelmente outras com outras vidas e histórias, mantêm-se insignificantes e quase transparentes. Mais uma paragem de autocarro ou mais um café e nada chama por mim. Nada me pede para ficar ali. Procuro o local que me peça para não ir e ficar para sempre. Que me mostre que qualquer coisa naquele dia me fará pedir que o amanhã não nasça.
As viagens, os caminhos, os apoios são iguais. Acordo e penso: “Hoje vai ser diferente”. Esforço-me, inicialmente, para sair deste quarto, que é meu refúgio, com a maior vontade de viver que sempre tive. Conforme enfrento a rua dou início ao anseio pelo qual espero surgir para me alimentar. Crio um imenso entusiasmo antes de virar a próxima esquina. Imagino e quero acreditar que do outro lado estará alguém que me irá olhar com tanta vontade de conhecer e encontrar o desconhecido como eu…