terça-feira, 20 de novembro de 2007

Já não é recente mas ainda é presente...

Seis da tarde. Dia de sábado, dia de Inverno. Um dos primeiros dias em que faz frio a sério. Sinto uma certa falta do verão e de poder estar lá fora sem precisar de uma camisola ou de alguém para me aquecer. Uma tarde de sábado perdida em casa, há quanto tempo não acontecia... Liguei-lhe. Tinha um vazio que só as nossas tardes juntos preencheriam. Como habitual falamos sobre tudo. Começámos no zero, passando pelo clímax das nossas vidas, seguindo-se comentários ridículos sobre o nosso rotineiro dia-a-dia. Eram poucas as vezes em que, depois de nos calarmos, sentíamos que nada podíamos tirar dali. Nunca nos sentíamos arrependidos de falar. Cada vez que um de nos acabava uma conversa tínhamos nas nossas mãos mais um pouco do outro. Nada era tabu entre nos. Éramos confidentes e críticos. Tudo passava por nós e nunca deixávamos escapar um assunto sem que esse fosse falado a fundo. Uma conversa que começasse, em pleno almoço, sobre como a alface da nossa sandes estava velha e seca chegaria, provavelmente, a uma confissão sobre como nos sentíamos sós e chorávamos, precisando um do outro. Era algo que sabíamos que sempre iria ficar, nós os dois. Sabíamos, e sabemos, que o que fomos nunca se ira tornar nada. Hoje já não nos temos. Sabemos que durante bastante tempo não seremos, nem iremos encontrar, o que fomos no nosso curto passado. Não encontramos, nem queremos, o porquê para o nosso fim. Nunca nos perguntámos porque éramos o que fomos e não queremos saber o que somos agora. Sabemos que não morremos um para o outro. Nunca nos iremos perder porque ambos nos guardamos, mas só por dentro. Hoje temos medo dos olhares com os quais sempre falamos. Hoje temos medo de voltar atrás porque não nos queremos voltar a despistar e perder como aconteceu. Sinto falta de tudo o que fomos. Dou por mim, sozinha, a andar, na expectativa de ouvi-lo chamar por mim ao longe e de ver, mais uma vez, o seu sorriso. De ouvir o seu andar calmo e de me encostar a seu lado. Quero voltar a sentir que tenho quem me guarde e cuide como tive. Agora espero e anseio o dia em que acordemos e ambos pensemos na falta que nos fazemos e na saudade que nasceu. Quero fechar os olhos e abri-los só quando souber que vais estar aqui.

Um comentário:

Rita Vian disse...

lembro-me de estar ao teu lado quando escreveste isso : )